Tio Leto

Como se fosse hoje, lembro que quando tinha por volta de sete ou oito anos, fazia alguns desenhos e pedia para meu pai enviar pelo correio ao jornal da cidade.Passados alguns anos, comecei a escrever pequenos textos ou versos e refazia o mesmo pedido ao meu pai.Com o passar do tempo, comecei a escrever mais e melhor, principalmente sobre ajuda ao próximo, sobre as atividades que executávamos á frente do Clube de Castores.
Portanto toda segunda-feira para mim era marcado por uma espera interessante, pois era nesse dia que saia junto a esse jornal, um encarte infanto-juvenil idealizado pelo Sr.Hamleto Rosato chamado de “A Tribuninha”.E não era fácil ter o desenho selecionado ou mesmo algum texto publicado, afinal eram muitas as crianças que participavam e toda vez que era feita a seleção, com certeza, virava motivo de festa para a escola e principalmente para o autor.
Tio Leto, como era chamado carinhosamente, sempre recebia seus pequenos colaboradores em sua sala no prédio do Jornal A Tribuna, aqui na cidade de Santos.Lembro bem seu sorriso franco, sua voz grave e forte, mas nem por isso menos gentil.Alias pelo contrário, pois sua fala sempre foi recheada de estórias e principalmente por uma crença inimaginável na infância e juventude brasileira.
Espírita, era dotado de uma alma sem par.Não deixou filhos, mas para que filhos se deixou órfãos milhares e milhares de jovens e crianças ( hoje adultos ) por essa cidade afora ? Pois é, na madrugada desse domingo, Tio Leto nos deixou.Ele que há 77 anos trabalhava initerruptamente no jornal, resolveu agora editar novas páginas, agora no céu junto de Deus, nosso pai.
Aos 94 anos de idade, ao invés de um merecido descanso, resolveu olhar de lá de cima por nós seus ilustres fãs e admiradores.Um dia, quem sabe, não voltamos a nos encontrar e assim novas segundas-feiras virão.